Ao Centro Universitário Luterano de Palmas.

Ao Centro Universitário Luterano de Palmas.

Ederval Camargo Rocha. Prof. Ceulp/Ulbra e Colégio Ulbra Palmas.
edervalcr@gmail.com

(Artigo publicado no JTo em 02/04/2009)

A crise administrativa e financeira pela qual vem passando a Ulbra, para nós mais especificamente o Ceulp/Ulbra, em Palmas, tem trazido à tona uma reflexão sobre o papel que a instituição desenvolveu desde sua chegada ao Tocantins. Um saudosismo flutua nos corredores da instituição, saudosismo este que, na visão deste que aqui escreve, tem dificultado a construção de um discurso uníssono em relação à crise e ao futuro da instituição no estado. Serei ousado neste momento e vou procurar, sobre minha percepção, contar um pouco desta história, passível de contestação.
Calcado nos princípios éticos do luteranismo, o pioneirismo da Ulbra em terra tocantinense é de irretocável importância, desbravadora num momento onde poucos se arriscavam, a instituição trouxe ao estado que nascia uma contribuição fundamental para a consolidação da sociedade tocantinense e também do norte do país. Um investimento sério e pioneiro que construiu uma forte ligação entre o povo do Tocantins e a instituição, tornando-a referencia em educação não apenas no estado, mas em toda região. Assim como cresceu o Tocantins também cresceu a Ulbra, em pouco tempo tornou-se elemento indispensável para o norte do país, sempre envolvida em projetos que tinham e tem como objetivos o crescimento social, econômico, político e espiritual da sociedade.
Desta forma, participar destes projetos, fazer parte desta instituição, ganhou um caráter especial e ser professor da Ulbra aqui no Tocantins representou um mérito curricular sem contestação, arrastando para cá profissionais das mais variadas áreas e regiões do país. Alguns com sua formação completa, outros que receberam da instituição apoio e confiança para a complementação profissional, todos com a certeza de fazerem parte de uma grande família luterana no cerrado brasileiro.
Entretanto, tudo na vida deve ser constantemente repensado, reavaliado e modificado. Assim, no mundo corporativo, já no final da década de 90, a necessidade de mudanças nos modelos de gestão foi ganhando proporções mundiais, destronando conceitos até então pétreos. A conjuntura socioeconômica e ou política mundial passou por reformulações ocasionadas pela era da globalização e competição dos mercados, um momento de expansão do neoliberalismo, o que tornou imprevisível um diagnóstico preciso dos acontecimentos econômicos e sociais que poderiam afetar todas as organizações no futuro. O modelo personalista, individual, familiar e, em alguns casos, autoritários, vai dando lugar a outros mais profissionais e especializados, buscando uma adaptação ao ambiente econômico e político. No campo educacional especificamente, é um período com uma crescente onda de privatização da educação. Instituições de ensino superior pipocavam por todos os lados, formando um verdadeiro mercado da educação superior, onde a qualidade nem sempre era item de primeira necessidade. De lá pra cá muitas desapareceram, outras se fundiram, umas se internacionalizaram, outras perderam mercado.
Em 2003 minha esposa veio para trabalhar no Ceulp/Ulbra, em 2005 eu também iniciei ali como professor e mais tarde, em 2006, também passei a lecionar no Centro Educacional Martinho Lutero, hoje Colégio Ulbra Palmas. Durante muito tempo ouvíamos as exaltações em relação à instituição e suas realizações e isso criava em nós um espírito desafiador, desbravador, confiante e orgulhoso. Mas de alguma forma não era fácil conseguir encontrar um elo entre aquela Ulbra exaltada e aquela que vivíamos naquele momento. A mudança de direção em 2004 começava a apresentar seus efeitos, corte em verbas, centralização administrativa e financeira em Canoas/RS e um distanciamento entre direção e funcionários, um isolamento poucas vezes rompido ao longo de quatro anos. Entre o agravamento da crise até este momento, em apenas duas ocasiões à direção da Ulbra se dirigiu a seus funcionários. A primeira em uma carta aberta assinada pelo reitor em novembro, dois meses após a situação da instituição se tornar pública e mais recentemente com a visita de um advogado vindo de Canoas para “explicar o que está acontecendo”. Não se falou mais em plano de cargos e carreiras, ocorreram redução de valores de hora/aula e de carga horária, os investimentos desapareceram. Ao longo de quatro anos apenas um curso de capacitação foi apresentado aos professores pela instituição, além das semanas pedagógicas no inicio de cada semestre. A Ulbra de outrora minguava, desaparecia enquanto muitos ainda pregavam seus feitos, esvaia-se no tempo passado enquanto o presente se apresentava outro. Nada é eterno a não ser que você o faça ser. Não duvido que o Ceulp/Ulbra ainda seja referencia em educação no norte do Brasil, mas pergunto até quando será. Ainda tenho prazer em ser professor nesta instituição, mas, sem falsa modéstia, não é apenas de bons professores que se faz uma instituição educacional, mas de bons administradores também. No momento atual as dificuldades são muitas, fundamentalmente para professores e funcionários, as boas perspectivas voltaram a aparecer nos últimos dias e torcemos para que a solução esteja próxima. As criticas não são para aquela Ulbra do inicio, de 17 anos atrás, mas para a Ulbra do presente. É imprescindível que consigamos perceber que as verdades mudam com o tempo para que os fatos não se repitam. A nostalgia de um passado próximo não pode suplantar a dura realidade do presente, aqueles que caminham olhando para trás sempre vão atrasar sua caminhada, tropeçando em saudades e lembranças.

Comentários

Jaine disse…
Durante alguns anos a ulbra foi se tornando referencia e crescendo junto com estado, mas ao longo dos anos as mudanças na escola são visíveis a começar pela a administração que com os anos o foi se deteriorando e hoje se encontra na situação atual.
Joyline M. 3º B disse…
Estudo na Ulbra há vários anos e, realmente, esta foi a pior crise que ela já enfrentou. Antes, ela era referência mesmo nos esportes, o que trazia muitos títulos para o colégio. No entanto, com uma boa cooperação e o apoio de todos os envolvidos, agências bancárias, equipe diretiva, pais, alunos e professores, acho que é possível encontrar uma solução viável para esses problemas financeiros.

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