Os cabeços-sujas e seu mundinho - Revista Veja - Edição 2207 - 09/03/2011
A pessoa que joga lixo na rua, na calçada ou na praia se revela portadora de uma disfunção mental e social que a inabilita para o sucesso no atual estágio da civilização
Sandra Brasil
Que tipo de gente joga lixo na rua, pela janela do carro ou deixa a praia emporcalhada quando sai? Uma das respostas corretas é: um tipo que está se tornando mais ra¬ro. Sim. A atual geração de adultos foi criança em um tempo em que jogar papel de bala ou a caixa vazia de biscoitos pela janela do carro quase nunca provocava uma bronca paterna. Foi adolescente quando amassar o maço vazio de cigarros e chutá-lo para longe não despertava na audiência nenhuma reação especial, além de um "vai ser perna de pau assim na China". Chegou à idade adulta dando como certo que aquelas pessoas de macacão com a sigla do Serviço de Limpeza Urbana estampada nas costas precisam trabalhar e, por isso, vamos contribuir sujando as ruas. Bem. isso mudou. O zeirgeist, o espírito do nosso tempo, pode não impedir, mas, pelo menos. não impele mais ninguém com algum grau de conexão com o atual estágio civilizatório da humanidade a se livrar de detritos em lugares públicos sem que isso tenha um peso, uma consequência. É feio. É um ato que contraria a ideia tão prevalente da sustentabilidade do planeta e da preciosidade que são os mananciais de água limpa, as porções de terra não contaminadas e as golfadas de ar puro.
E, no entanto, as pessoas ainda sujam, e muito, as cidades impunemente. Cartão-postal brasileiro. o vasto litoral do Rio de Janeiro, um patrimônio natural de 246 quilômetros de areias pontilhado por montanhas, virou um caso emblemático de regressão a estágios civilizacionais mais primitivos.
Para se ter uma ideia, só no mês de janeiro 3 000 toneladas de lixo foram recolhidas das praias cariocas — guimbas de cigarro, palitos de picolé, cocô de cachorro e restos de alimento. Empilhadas, essas evidências de vida pouco inteligente lotariam cinco piscinas olímpicas. Resume o historiador Marco Antonio Villa: "Ao contrário de cidadãos dos países desenvolvidos, o brasileiro só vê como responsabilidade sua a própria casa e não nutre nenhum senso de dever sobre os espaços que compartilha com os outros — um claro sinal de atraso".
O flagrante descaso com o bem público tem suas raízes fincadas na história, desde os tempos do Brasil colônia. No período escravocrata, a aristocracia safa a passear sempre com as mãos livres, escoltada por serviçais que não só carregavam seus pertences como limpavam a sujeira que ia atirando às calçadas. Há relatos de que o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) causava tanto espanto quando aparecia em público trazendo consigo os próprios pincéis que decidiu, ele também, contratar um escravo para realizar o serviço. Não raro, o rei dom João VI fazia suas necessidades no meio da rua, hábito também cultivado pelo filho, Pedro I, e ainda hoje presente. Foi com a instauração da República que o estado assumiu, de forma sistemática, o protagonismo no recolhimento do lixo, mas isso não significou, nem de longe, nenhuma mudança de mentalidade por parte dos brasileiros. Cuidar da sujeira continuou a ser algo visto como aquilo que cabe a terceiros — jamais a si mesmo.
Existe uma relação direta entre o nível de educação de um povo e a maneira como ele lida com o seu lixo. Não por acaso, o brasileiro está em situação pior que o cidadão do Primeiro Mundo quando se mede a montanha de lixo nas ruas deixada por cada um deles. Os cariocas figuram entre os mais mal-educados espantosos 40% do lixo acumulado na cidade são retirados de praças, calçadas e praias. É o dobro de São Paulo e mais que o triplo do índice de grandes metrópoles de países desenvolvidos. Os especialistas chamam atenção para uma peculiaridade que ajuda a compreender por que o quadro se agrava no Rio de Janeiro. Diz o economista Sérgio Besserman: "O fato de a cidade já ter sido a capital do país contribui para que persista ali uma sociedade patrimonialista, que enxerga tudo, absolutamente tudo, como papel do governo". Desde a Antiguidade, as grandes cidades do mundo, que já foram insalubres um dia, só conseguiram deixar essa condição à custa de um intenso processo de urbanização, aliado à mobilização dos cidadãos e a severas punições em forma de multa. "A concepção do bem público como algo valoroso nunca é espontânea, mas, sim, fruto de um forte empenho por parte do estado e das famílias", diz o filósofo Roberto Romano.
Comentem.
abraço.
Sandra Brasil
Que tipo de gente joga lixo na rua, pela janela do carro ou deixa a praia emporcalhada quando sai? Uma das respostas corretas é: um tipo que está se tornando mais ra¬ro. Sim. A atual geração de adultos foi criança em um tempo em que jogar papel de bala ou a caixa vazia de biscoitos pela janela do carro quase nunca provocava uma bronca paterna. Foi adolescente quando amassar o maço vazio de cigarros e chutá-lo para longe não despertava na audiência nenhuma reação especial, além de um "vai ser perna de pau assim na China". Chegou à idade adulta dando como certo que aquelas pessoas de macacão com a sigla do Serviço de Limpeza Urbana estampada nas costas precisam trabalhar e, por isso, vamos contribuir sujando as ruas. Bem. isso mudou. O zeirgeist, o espírito do nosso tempo, pode não impedir, mas, pelo menos. não impele mais ninguém com algum grau de conexão com o atual estágio civilizatório da humanidade a se livrar de detritos em lugares públicos sem que isso tenha um peso, uma consequência. É feio. É um ato que contraria a ideia tão prevalente da sustentabilidade do planeta e da preciosidade que são os mananciais de água limpa, as porções de terra não contaminadas e as golfadas de ar puro.
E, no entanto, as pessoas ainda sujam, e muito, as cidades impunemente. Cartão-postal brasileiro. o vasto litoral do Rio de Janeiro, um patrimônio natural de 246 quilômetros de areias pontilhado por montanhas, virou um caso emblemático de regressão a estágios civilizacionais mais primitivos.
Para se ter uma ideia, só no mês de janeiro 3 000 toneladas de lixo foram recolhidas das praias cariocas — guimbas de cigarro, palitos de picolé, cocô de cachorro e restos de alimento. Empilhadas, essas evidências de vida pouco inteligente lotariam cinco piscinas olímpicas. Resume o historiador Marco Antonio Villa: "Ao contrário de cidadãos dos países desenvolvidos, o brasileiro só vê como responsabilidade sua a própria casa e não nutre nenhum senso de dever sobre os espaços que compartilha com os outros — um claro sinal de atraso".
O flagrante descaso com o bem público tem suas raízes fincadas na história, desde os tempos do Brasil colônia. No período escravocrata, a aristocracia safa a passear sempre com as mãos livres, escoltada por serviçais que não só carregavam seus pertences como limpavam a sujeira que ia atirando às calçadas. Há relatos de que o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) causava tanto espanto quando aparecia em público trazendo consigo os próprios pincéis que decidiu, ele também, contratar um escravo para realizar o serviço. Não raro, o rei dom João VI fazia suas necessidades no meio da rua, hábito também cultivado pelo filho, Pedro I, e ainda hoje presente. Foi com a instauração da República que o estado assumiu, de forma sistemática, o protagonismo no recolhimento do lixo, mas isso não significou, nem de longe, nenhuma mudança de mentalidade por parte dos brasileiros. Cuidar da sujeira continuou a ser algo visto como aquilo que cabe a terceiros — jamais a si mesmo.
Existe uma relação direta entre o nível de educação de um povo e a maneira como ele lida com o seu lixo. Não por acaso, o brasileiro está em situação pior que o cidadão do Primeiro Mundo quando se mede a montanha de lixo nas ruas deixada por cada um deles. Os cariocas figuram entre os mais mal-educados espantosos 40% do lixo acumulado na cidade são retirados de praças, calçadas e praias. É o dobro de São Paulo e mais que o triplo do índice de grandes metrópoles de países desenvolvidos. Os especialistas chamam atenção para uma peculiaridade que ajuda a compreender por que o quadro se agrava no Rio de Janeiro. Diz o economista Sérgio Besserman: "O fato de a cidade já ter sido a capital do país contribui para que persista ali uma sociedade patrimonialista, que enxerga tudo, absolutamente tudo, como papel do governo". Desde a Antiguidade, as grandes cidades do mundo, que já foram insalubres um dia, só conseguiram deixar essa condição à custa de um intenso processo de urbanização, aliado à mobilização dos cidadãos e a severas punições em forma de multa. "A concepção do bem público como algo valoroso nunca é espontânea, mas, sim, fruto de um forte empenho por parte do estado e das famílias", diz o filósofo Roberto Romano.
Comentem.
abraço.
Comentários
E muito interessante o mesmo destacar a mentalidade existente em muitos brasileiros,"vou jogar lixo na rua,pois tem pessoas que trabalham só para isso", pra mim esse é um pensamento muito infantil,porque essas pessoas ao invés de estarem limpando essa sujeira, poderiam estar limpando as "sujeiras naturais" por exemplo, que já deixam as cidades muito desorganizadas .Na minha opinião é principalmente por esse tipo de imaginação que o brasileiro muitas vezes é visto com maus olhos pelos países a fora,que esse ato não é dado como comum.E infelizmente se isso não mudar o Brasil vai ser sempre menos prestigiado.
Aluno: Weider Cardoso dos Santos
Escola: IFTO
Série: 1° ano Curso: Agronegócio
Bruna Sousa Torres Costa
Agronegócio 1.
IFTO
Hislla Souza Aguiar
Agronegocio I
IFTO
mas estamos lidando com pessoas muinto diferentes e ha pessoas que acham que podem jogar lixo nas ruas pela janela do carro,que não vai acontecer nada...mas ai e que eles se enganam.temos que ter consiencia respeito e solidariedade pos temos que deixar um muinto melhor para os que viram e ensinalos a cuidar dessa maravilha que o meio ambiente "TERRA" ^^ ta meu tecado..
Francisca vitoria da S.Torquato
Agronegócio 1
IFTO
Desculpe-me, não coloquei meu nome.
Wenjhesony A. Macena.
mas estamos lidando com pessoas muinto diferentes e ha pessoas que acham que podem jogar lixo nas ruas pela janela do carro,que não vai acontecer nada...mas ai e que eles se enganam.temos que ter consiencia respeito e solidariedade pos temos que deixar um muinto melhor para os que viram e ensinalos a cuidar dessa maravilha que o meio ambiente ^^
Francisca vitoria da S.Torquato
Agronegócio 1
IFTO
valeu.
Prof. Ederval
O brasil tem que mudar esse costume , e educar a sua população em relação ao lixo . O lixo hoje e uma forma de renda para muitos brasileiros no mundo de hoje...
aluno :danillo cardoso, 1ano A
COLEGIO EINSTEIN
Precisamos ter consciência de não jogar lixo em lugares assim. Cristhina Viana Martins 1 Ano A.
"A concepção do bem público como algo valoroso nunca é espontânea, mas, sim, fruto de um forte empenho por parte do estado e das famílias", diz o filósofo Roberto Romano; mas pode ser que o que vemos é o futuro.
Kayo Henrique
Agronegócio 1
IFTO